maio 24, 2003

The Lurker Update (ou 15 segundos de fama)

Um rápido update do caso da reportagem na Esplanada dos Ministérios: a tal filmagem passou, efetivamente, no jornal local. Descobri isso no outro dia, quando vieram me perguntar se eu havia me cansado e se a perna doía...

- Ué? Por que?
- Ora, andando sob o Sol até o congresso...


E, segundo me disseram, agora somos "funcionários do Congresso Nacional que tiveram que estacionar longe por causa da confusão". Eu disse que repórter não acerta uma... formadores de opinião... Era preciso que eles tivessem uma primeiro...

The Lurker says: "The things most people want to know about are usually none of their business" George Bernard Shaw

maio 20, 2003

The Lurker vai ao Congresso Nacional (ou plus ça change, plus c´est la memme chose)

Hoje foi o dia do lançamento, pela UNESCO no Brasil, da Década para a Alfabetização: um acontecimento cheio de pompa, circunstância e cabeças coroadas da educação nacional, que se realizou no Salão Negro do Congresso Nacional. Lá estavam desde figuras “mitológicas” como a “policrômica” Esther Gross, passando por Martha Suplicy (escoltada por seu antigo consorte), até Viviane Senna e Cristóvam Buarque.

O interessante dessas coisas, para nós reles mortais, sempre é o que acontece enquanto as autoridades estão entretidas em seus pronunciamentos. Senão vejamos:

No caminho para o Congresso, na Esplanada dos Ministérios havia uma manifestação de perueiros de Goiânia, que protestavam contra a ameaça de que o serviço prestado por eles fosse desativado, parando o trânsito e bloquando o acesso de qualquer coisa maior que uma motoneta. Resultado: gente desviando pelo gramado, pela calçada, pela contramão (cadê a polícia?), gente saindo dos carros para brigar com os perueiros (CADÊ a polícia?), enfim, uma brafunda geral.

Depois de dez minutos no táxi imobilizado (sim, porque a muito tempo não se encontra estacionamento na Esplanada) decidimos desembarcar e andar o kilômetro que nos separava do Congresso. E vamos nós, os três patetas, andando e observando o caos urbano instalado no “centro das decisões nacionais” quando, no sentido oposto, observamos um cavalheiro armado de filmadora, com o símbolo inconfundível da vênus platinada. Epa... lá vem coisa... Junto ao sujeito, uma sujeita armada com um microfone... Opa... opa... eu não gosto disso... nunca disse nada a um repórter que fosse repetido direito...

- Vocês vem andando desde onde? – Pergunta com aquele jeito meio sádico de repórter que vê o circo pegar fogo.
- Desde o Ministério do Trabalho, tem uns 10 minutos – Respondemos, sorrindo como se nada estivesse acontecendo.
A pobre não pareceu muito interessada em nos entrevistar depois disso.

Passamos a seguir por um acampamento dos tais perueiros goianos, mas o motivo do protesto ainda não era totalmente claro. Afinal, descobrimos onde estava a "mundiça": sob a sombra de duas árvores deveria haver uns dez policiais, enquanto dois pobres coitados apitavam feito loucos à frente de um semáforo, como se suas armas sônicas fossem mover as vans um milímetro que fosse. Mais adiante, um grupo de oficiais da PM observava como se não fosse com eles...

Chegamos finalmente ao Congresso, entramos pela rampa superior, explicando ao Policial Federal que tínhamos o direito de entrar por ali mesmo porque era nossa organização quem bancava a festa. Nada como o bom e velho terno e gravata: ninguém reclama de nada, ninguém pede identificação de nada.

A cerimônia começa com a constituição da mesa, que tem mais gente do que se possa achar razoável (seguramente uns 15 notáveis). Jamais entendi essa mania que temos no Brasil de encher a mesa de autoridades que tem e que não tem a ver com o evento. E todo mundo tem que ter sua vez de discursar o tempo que achar necessário... os discursos se alongam, o público se cansa e a festa se esvazia. Mas para mim tudo bem: estou circulando mesmo, conhecendo quem não conhecia e discutindo projetos interessantes. Que me interessa o que o Governador do Alagoas tem a chorar, sobre sua população de 50% de analfabetos? Não são constatações panfletárias do momento que resolvem o problema. Não é a indignação demagógica que alfabetiza e não é nos salões que as coisas se ajeitam. O que resolverá o problema será a continuidade e apersistência das ações de governo. Então, deixa a verborragia correr e vamos cuidar daquilo que os técnicos fazem (Groo faz o que Groo faz melhor).

O tempo passa e a mente flutua... é interessante observar, contudo, que o nouveau régime parece ter herdado um tanto da hipocrisia do antigo, ao usar um grupo de alunos recém-alfabetizados da Câmara como exemplo de implantação de programas deste tipo e de espírito cívico e empreendedor. Explico: em princípio os programas de alfabetização levam cerca de seis meses. A atual administração ainda não completou 180 dias e, com certeza, não foi no recesso parlamentar que este pessoal estudou.

Entretanto, la nouvelle vague tem outros méritos: atravessando o salão, ao largo da cerimônia, com cara de quem não sabe exatamente o que acontece, mas conhece na pele os problemas que se discutem na mesa de honra, entra um grupo de representantes do MST. E é, para mim, o highlight do evento: passam ao lado dos convidados e em filas, ordeiramente, os mais velhos tiram seus chapéus, os mais jovens olham com curiosidade. Demonstram muito mais respeito a uma cerimônia cujos objetivos ignoram do que muitos dos doutores presentes que conversam no salão apinhado enquanto os diversos discursos se sucedem.

Comento com uma amiga que esta talvez seja a diferença entre aquilo que era e aquilo que é. Desde a Esplanada até o Salão as pessoas mais humildes, que a vinte anos nem pensariam em fazer o que fazem agora estão tomando o espaço que, conquanto não saibam, lhes pertence por direito. Se o grande legado de FHC foi a estabilidade das instituições, a contribuição da nova gestão parece estar sendo permitir que mais alguém, além do seleto grupo de iluminados de sempre, participe destas mesmas instituições.

PS: Lembra quando eu disse que queria mais três semanas iguais às de 05 de maio? Sabe aquele negócio de cuidado com o que deseja porque você pode conseguir? Nada mais verdadeiro...Alguém poderia tirar o pé do acelerador, por gentileza?

The Lurker Says: “I recommend biting off more than you can chew to anyone” (Allanis Morissete – You Learn)